Foi aquela a última vez que me senti completamente vazia, cheia de vastidão, areia sem fim, sem nenhum sol, ou lua ou estrela ou pensamento. Contei as pedrinhas da rua, sentei na escada e esperei virem ver. A porta não se abriu e as luzes nas janelas diziam que ali havia gente, coisa de gente e vontade de gente. Eu não queria ser mais gente, ser dói. Quis entender a construção das casas, a colocação dos muros e a conexão dos postes. Quis ser um grande matemático valsando em fórmulas e não ligando para o inexato de sentir. Quis contento com as futilidades e o doce e as pipocas em fim de tarde solitária. Quis remédio para as feridas, quis novas feridas. Subi até o segundo andar sem nada dizer e as costurei em banho quente, e as abri em choro baixo, para que não soubessem.
"as costurei em banho quente, e as abri em choro baixo, para que não soubessem."
ResponderExcluirBelíssimo. Abraços.Jô.